Gene ACE pode estar associado a maior risco do COVID19?

O gene ACE codifica a enzima zinco metalopeptidase conversora de angiotensina (ECA), a qual desempenha importante papel no controle da pressão arterial e homeostase cardiovascular como fator regulador no sistema renina-angiotensina (RAS). ECA transforma angiotensina I em angiotensina II, que é um potente vasoconstritor, pois inativa e degrada o vasodilatador Bradicinina.

O gene ACE possui muitas variantes genéticas (polimorfismos) entre eles rs4343, que possui os alelos A (associado com inserção – I) e G (associado com deleção – D), o alelo G é associado a maior expressão, maior vasoconstrição, maior risco de hipertensão e risco 3,2 X maior de infarto do miocárdio. Atualmente, diversos pesquisadores tem divulgado diversos fatores de risco à  COVID19: idade maior que 60 anos,  diabetes,  problemas cardíacos e pulmonares, etc.

Entretanto, existem casos de pacientes jovens e saudáveis que apresentaram quadros mais graves.  Devido a isso, vários grupos de cientistas tem se unido para desenvolverem estudos multicêntricos para identificação de possíveis genes associados a maior suscetibilidade.

Um dos genes a serem estudados é justamente o gene ACE, pois o coronavírus usa a ECA2 para entrar em células do sistema respiratório. Portanto, o genótipo GG (DD) do gene ACE pode ser  candidato a maior suscetibilidade ao coronavírus, pois está associado a maior expressão e consequentemente maiores níveis de ECA2. Não se preocupe, é só uma hipótese a ser testada. Não há nenhuma comprovação científica, ainda. Existe enorme variabilidade entre indivíduos no nível circulante de ECA, que é fortemente influenciado pelo genótipo do gene ACE, estudos sugerem que 86% dos níveis circulantes de ECA são determinados pelo genótipo e 14% devido a fatores ambientais, como a dieta.

Os níveis de ECA circulantes e os níveis de atividade são aumentados em indivíduos obesos e tendem a diminuir com a redução de peso. Shüler et al. (2017), avaliaram quarenta e seis pares de gêmeos saudáveis e não-obesos, que consumiram inicialmente uma dieta rica em carboidratos e baixa gordura (LF - 55% carboidrato, 30% gordura e 15% proteína), durante um período de 6 semanas para padronizar o comportamento nutricional antes do estudo, seguido por 6 semanas de dieta rica em gordura saturada (HF- 40% carboidrato, 45% gordura e 15% proteína), em condições isocalóricas.

Após 6 semanas de dieta HF, as concentrações de ECA circulante aumentaram 15%, acompanhadas por aumento da expressão de ECA no tecido adiposo.

O estudo demonstrou que portadores do genótipo GG apresentaram concentrações basais mais elevadas de ECA e aumento de 2 vezes nas concentrações de ECA em resposta a dieta HF, quando comparados aos portadores dos genótipos AA ou AG.

Os portadores do genótipo GG também responderam com maior pressão arterial sistólica (um dos fatores de risco para COVID19),  em comparação aos portadores do genótipo AA ou AG. Essa forte interação gene-dieta foi confirmada em um segundo estudo (MeSyBePo). ”

Se você for portador do genótipo GG, ou se você for um profissional, médico ou nutricionista pode ser importante avaliar o genótipo do gene ACE, e se for o caso, adequar a estratégia  utilizada.