Queda capilar: descubra a raiz do problema e como combater a perda dos fios

Fios de cabelo no ralo, um tufinho na escova e e outro tanto na fronha do travesseiro. Esses são apenas alguns sinais de que algo está errado com a saúde capilar. “A perda de cabelo é mais comum do que você imagina. De acordo com a American Hair Loss Association, as mulheres representam até 40% das pessoas que sofrem de queda de cabelo nos Estados Unidos. A genética, o estresse, as dietas radicais e as mudanças no estilo de vida pode interferir nos ciclos de crescimento do cabelo e, em alguns casos, a queda de cabelo pode, na verdade, funcionar como um sinal de alerta para problemas médicos latentes. É importante estar atento ao que está acontecendo com seu cabelo, porque pode ser um indicativo de seus hormônios, sua tireoide, seu metabolismo e sua saúde geral”, explica a dermatologista Patrícia Mafra, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Se alguém tem anemia por deficiência de ferro, por exemplo, uma de suas primeiras manifestações pode ser a perda de cabelo. Quanto mais cedo essas condições forem detectadas, melhor”, acrescenta.

“É bastante normal perder entre 50 a um pouco acima de 100 fios de cabelo por dia. Muito mais do que isso é preocupante e você deve buscar ajuda médica”, diz a Dra. Patrícia Mafra. Assim como você prestaria atenção a uma pinta suspeita ou ficaria de olho em uma erupção cutânea, é importante observar o que está acontecendo com seu cabelo. É possível fazer um teste de contagem de cabelo em que você conta cada fio de cabelo que perde por dia para avaliar se o que está acontecendo é normal ou se transforma em algo preocupante. Os tipos de queda mais comuns são caracterizados como calvície (com causa hereditária) ou eflúvio telógeno (perda acentuada dos fios devido a alguma causa). Segundo o geneticista Marcelo Sady, pós-doutor em genética e diretor geral Multigene, a genética pode influenciar não só na queda capilar, como na resposta do tratamento tópico e de medicamentos orais.

Existem condições, como a alopecia areata e a alopecia universalis, em que a queda de cabelo é causada quando o sistema imunológico ataca o folículo piloso. “Esse tipo de queda de cabelo costuma ser repentina e você notará uma ou mais áreas calvas circulares. É comum ter recorrências da doença, e uma pequena porcentagem de pessoas que desenvolvem alopecia desse tipo apresentam queda de cabelo nos cílios e sobrancelha, além da calvície total do couro cabeludo, embora possam não apresentar todos esses sintomas. Esta é uma condição crônica e quanto mais cedo for diagnosticada, mais cedo você poderá descobrir as próximas etapas e iniciar os cuidados”, diz a Dra. Patrícia Mafra.

Primeiros sinais da queda capilar

Apesar do que você pode ter sido levado a acreditar, nem toda perda de cabelo tem a mesma aparência. Identificar exatamente o tipo que você está experimentando pode ajudá-lo a chegar à raiz do problema. “A causa mais comum de queda de cabelo é hereditária e, geralmente, ocorre gradualmente à medida que envelhecemos. Você pode notar entradas crescentes, cabelo ralo ou áreas calvas. Se notar afinamento nas têmporas e na linha do cabelo, é um sinal de que o folículo está afetado. Nesse caso, é hora de consultar um dermatologista para que ele possa fazer a triagem de quaisquer problemas subjacentes, como deficiência de ferro ou desequilíbrios hormonais”, explica a dermatologista Patrícia Mafra. “Se a queda de cabelo for lenta e gradual e houver histórico familiar, pode-se supor que seja uma queda de cabelo de padrão feminino. Se a queda de cabelo for repentina e acentuada, começar alguns meses após a gravidez, então é justo supor que se trata de um eflúvio telógeno devido à gravidez”, diz a Dra. Patrícia. Um dermatologista pode examinar seu couro cabeludo, fazer exames de sangue e conversar com você sobre seus sintomas.

Queda dos fios X situações de estresse

A queda acentuada e repentina dos fios é bastante comum após traumas físicos, como parto ou cirurgia, além de estresse físico e psicológico, dietas, infecções e doenças. “Algo como mudar a marca de anticoncepcional também pode prejudicar o corpo e desequilibrar seu equilíbrio interno o suficiente para que ocorra queda de cabelo”, diz a Dra. Patrícia Mafra. Se você tem passado por uma fase difícil na vida ultimamente e isso é a ‘culpa’ da queda capilar, eis uma boa notícia: todo o cabelo que você perdeu pode voltar. “Concentre-se em sua saúde mental, cuide de seu corpo e faça questão de controlar seus níveis de estresse, e o período de queda provavelmente irá embora por conta própria. Quando identificamos a causa pela qual o cabelo está sendo afetado, consertando isso, temos o restabelecimento normal dos fios”, diz a médica. “Especialmente nas mulheres, o estresse e o hormônio do estresse – cortisol – são um grande contribuinte, especialmente o estresse crônico, pois pode perturbar o equilíbrio hormonal e levar à interrupção do ciclo de crescimento do cabelo, bem como à inflamação”, diz a dermatologista.

Problemas de saúde X queda de cabelo

“A perda de cabelo pode ser um sinal de um problema de saúde subjacente e atuar como um sistema de alerta precoce. A saúde dos folículos capilares está diretamente relacionada à saúde e ao funcionamento de nosso sistema endócrino”, diz a dermatologista Patrícia  Mafra. “Para doenças como a síndrome do ovário policístico (SOP), que geralmente é difícil de diagnosticar, o enfraquecimento do cabelo costuma ser um dos primeiros sinais indicadores, junto com a acne e os pelos no rosto e/ou pescoço causados pelo aumento dos níveis de testosterona. Pacientes com SOP podem apresentar níveis elevados de testosterona, levando à alopecia androgenética”, explica a dermatologista.

Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo também podem causar queda de cabelo. Por isso é importante verificar o TSH, que é um teste de rastreamento para ambas as condições. “A perda de cabelo pode nos alertar sobre tudo, desde desequilíbrios hormonais a deficiências nutricionais. A deficiência de ferro, de vitamina D ou de vitamina B12 também podem causar queda de cabelo. O fundamento é ouvir o próprio corpo quando algo parece errado. Tome nota da queda de cabelo e de quaisquer outros sintomas e peça ao seu médico ou dermatologista um exame de sangue completo”, explica a dermatologista Patrícia  Mafra.

Fios quebradiços

Se você perceber que seu cabelo está quebrando no meio da mecha ou a alguns centímetros do couro cabeludo, isso é um sinal de queratina enfraquecida e quebra devido a danos graves na proteína do cabelo – não tendo relação com a queda de cabelo tradicional. “Nesse caso, dê um descanso ao cabelo, evite descolorir e tingir até ver algum crescimento nos pedaços quebrados e uma melhora geral na textura do cabelo”, alerta a dermatologista Patrícia Mafra.

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Dieta e suplementação alimentar

Se você estiver passando pelos corredores de uma farmácia e pensando em comprar biotina, dê um passo para trás. “Embora seu uso como suplemento para o crescimento de cabelos e unhas seja prevalente, as pesquisas que demonstram a eficácia da biotina são limitadas e a maioria se concentra nas unhas. Na verdade, não temos grandes dados que suportem seu uso para queda capilar, ao menos que o paciente tenha esse tipo de carência nutricional”, diz a dermatologista Patrícia Mafra. “Mas essa deficiência natural grave é muito rara. Normalmente é preferível incorporar mudanças comprovadas no estilo de vida, como uma dieta rica em nutrientes e diminuição do estresse”, complementa a Dra. Patrícia.

Segundo a médica nutróloga Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), as carências de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos de boa qualidade também impactam na saúde dos fios e do couro cabeludo. “Seu cabelo é composto, principalmente, de proteínas, portanto, incluir quantidades adequadas em sua dieta é vital para o crescimento do cabelo. Aproximadamente 85% do cabelo é formado de queratina, que é uma proteína, e por ser um tecido de excreção, é formado de aminoácidos sobressalentes para essa função. Se não houver sobra de aminoácidos, não há boa síntese de queratina. Além disso, minerais metálicos, como ferro e cobre, além de vitaminas do complexo B, participam da manutenção da saúde capilar”, diz a Dra. Marcella Garcez. Se você tiver carência desses nutrientes, seu cabelo irá cair mais num quadro intenso (eflúvio telógeno), a textura dos fios pode mudar, além de ficarem mais fracos e propensos à quebra. O excesso de açúcar na dieta também pode comprometer a saúde dos folículos capilares aumentando a possibilidade de eflúvio (queda de cabelos).

Tratamentos contra a queda capilar

Existem alguns tratamentos, como injeções de plasma rico em plaquetas (PRP), que são bastante eficientes. “O PRP contém vários compostos exclusivos das plaquetas que estimulam o crescimento e reduzem a inflamação”, explica a dermatologista Patrícia Mafra. As plaquetas funcionam de forma semelhante ao que fazem em outras partes do corpo, reparando áreas danificadas e ajudando-as a crescer novamente. Microagulhamento, lasers, MMP capilar também são técnicas que funcionam para estimular o crescimento capilar.

O tratamento domiciliar também é uma etapa muito importante no combate à queda e deve ser seguido religiosamente. O minoxidil, substância geralmente encontrada em farmácias de manipulação na concentração de 5%, deve ser aplicado de maneira tópica no couro cabeludo. “O medicamento promove o aumento da circulação sanguínea do couro cabelo com consequente melhora na oxigenação da região. Com isso, há a prolongação da fase anágena, ou seja, a fase de crescimento dos fios, que passam a nascer mais fortes e saudáveis. O medicamento pode ser combinado com outros ativos antiqueda, como cafeína, fatores de crescimento e extratos botânicos, a fim de melhorar sua performance”, diz a Dra. Patrícia Mafra.

Segundo o geneticista Dr. Marcelo Sady, um exame de genotipagem do DNA para o tratamento do cabelo pode ajudar, pois permite avaliar minuciosamente a composição genética de cada paciente, quais são as mutações que ele apresenta, se estas são totais (com os dois alelos comprometidos) ou parciais (com apenas um dos alelos alterados), demonstrando quais são as predisposições a que esse cabelo está disposto pela herança hereditária. Até mesmo as respostas de medicamentos clássicos para tratar a queda capilar, como minoxidil e finasterida, são influenciadas pelos genes. “Por exemplo, a proteína codificada pelo gene PTGES2 atua diretamente no metabolismo do minoxidil, medicamento tópico antiqueda de primeira escolha pelos dermatologistas. Se este gene estiver menos expressado, é necessário aumentar a dose. Uma expressão maior desse gene, por outro lado, fará você manter ou diminuir a dose. Já no caso da baixa expressão do gene CYP19A1, há acúmulo de DHT (di-hidrotestosterona), que leva à queda de cabelo e aumento de oleosidade. Outro exemplo é o gene SRD5A2, que codifica a enzima 5 alfa redutase 2, envolvida com o aumento da oleosidade e queda capilar. Com menor expressão, deve-se prescrever dose normal ou diminuir a dose de dusdaterida e finasterida”, diz o geneticista.

“Saber disso permite a prescrição mais personalizada, incluindo ativos tópicos que atuarão também na redução da caspa e inflamação (Defenscalp) e antiqueda (Capixyl). Como suplementação oral, com ativos como Exsynutriment e Fosfolipídeos de Caviar (FC Oral), que podem ajudar no tratamento contra queda capilar, conferindo ancoragem e sustentação aos fios, e diminuindo a inflamação”, esclarece a farmacêutica Maria Eugenia Ayres, gestora técnica da Biotec Dermocosméticos.

Publicado na https://gowhere.com.br