Performance Atlética e Gene ACE

Performance Atlética e Gene ACE


Marcelo Sady Plácido Ladeira

O gene ACE codifica a enzima convertente de angiotensina (ECA), que faz parte do sistema renina-angiotensina. ECA catalisa a transformação da angiotensina I em angiotensina II. Angiotensina II afeta vasoconstrição e regula a homeostase do sal e água pela liberação de aldosterona.

Regula atividades inflamatórias, eritropoiese, oxigenação de tecidos, pressão sanguínea, etc (Ostrander et al, 2009). O gene ACE possui um polimorfismo relevante para atividade física, o qual é caracterizado por uma inserção/deleção de 287 pb. O alelo D está associado com níveis séricos e teciduais elevados de ECA (aumento de 50 a 60%), aumento da produção do agente vasoconstritor angiotensina II e redução da meia-vida da bradicinina (vasodilatador). Indivíduos homozigotos para o alelo D parecem ter um pior prognóstico em relação a várias condições cardíacas e renais e podem apresentar maior risco de hipertensão e risco 3,2 X maior de infarto do miocárdio.

No entanto, além de regular a pressão arterial, ACE pode influenciar a função do músculo esquelético, pois atua como um fator de crescimento do músculo, que está envolvido na indução de hipertrofia muscular (Jones et al. 2002). Portadores do alelo D podem apresentar maior número de fibras musculares do tipo glicolíticas, consequentemente contração mais rápida, maior velocidade e explosão, enquanto portadores do alelo I apresentam maior aptidão para exercícios de endurance. Em estudo com 138 alpinistas experientes, foi relatado que portadores do alelo I apresentaram maior facilidade em ascender mais de 8000 m sem suplementação com oxigênio.

Portadores do genótipo DD ascenderam em média 8097 m (±947 m), enquanto homozigotos II ascenderam a média de 8559 m (±565m). Em um estudo recente, Papadimitriou et al. (2016), avaliaram a influência do genótipo dos genes ACNT3 R577X (ver post anterior) e ACE I/D em atletas velocistas de elite e relataram que para a prova de 100 m não houve diferença significativa entre os genes estudados. Entretanto, foi verificado, em caucasianos, que portadores do genótipo RR do gene ACNT3 foram significativamente mais rápidos (melhor performance), quando comparados aos portadores do genótipo RR, na prova de 200m. Também foi verificado, para a prova de 200m, que portadores do alelo D foram mais rápidos. Além disso, para a prova de 400 m, foi verificado também que portadores do alelo D do gene ACE apresentaram melhores resultados (performance), que atletas portadores do genótipo II, não houve diferença significativa entre os portadores do genótipo DD e DI.

Um resultado que merece destaque: nenhum dos atletas portadores do genótipo II conseguiu atingir o tempo de qualificação para os jogos olímpicos (45.90s), para a prova de 400m. Na conclusão, Papadimitriou et al. (2016), destacam a relevância da genotipagem dos genes ACNT3 e ACE para predição de aptidão e treinamento de corredores de 200m e 400m. Nossa opinião: embora seja inquestionável a importância dos fatores genéticos e dos genes avaliados, outros parâmetros e genes devem ser utilizados para se definir aptidão (por favor, nunca utilize só a genética), por isso a importância de um perfil de genotipagem. Além disso, as Olimpíadas nos dão exemplos diários de superação, demonstrando que há mais que treinamento e fatores genéticos e ambientais envolvidos.

Referências Bibliográficas:

Ostrander et al. Annu. Rev. Genom. Human Genet. V. 10:407-429,2009.
Papadimitriou et al ACTN3 R577X and ACE I/D gene variants influence performance in elite sprinters: a multi-cohort study. BMC Genomics. V.17:285, 7-8, 2016.