Atleticogenética e Aptidão para Exercícios de Força e Velocidade

Atleticogenética e Aptidão para Exercícios de Força e Velocidade

Marcelo Sady Plácido Ladeira

            A resposta frente a atividade física é muito heterogênea e está relacionada a fatores psicológicos e motivacionais, quantidade e tipo de treinamento, política pública, cultura, nutrição e  fatores genéticos. 

Os fatores genéticos influenciam as características relacionadas a performance atlética (desempenho do seu treino) e o atletismo de elite. Cerca de 50% (30% a 70%, de acordo com modalidade) das diferenças de desempenho entre atletas profissionais ou qualquer praticante de atividade física, podem ser explicadas pela existência de variantes genéticas em mais de 240 genes, que afetam características funcionais tão diversas como o desempenho muscular, fluxo sanguíneo, capacidade cardiorrespiratória, etc. Existem no mínimo 12 genes associados a aptidão para exercícios de força e velocidade, entre eles os mais estudados são o gene ACNT3 e ACE.

Gene ACNT3

            O gene ACNT3 codifica a proteína do músculo esquelético de ligação α-actinina-3, a qual é  expressa especificamente nas miofibras rápidas – Tipo II e gera fortes contrações quando os indivíduos estão em alta velocidade – explosão. Além disso, a α-actinina-3 pode atuar também como fator de crescimento muscular, favorecendo a hipertrofia. O gene ACNT3 possui vários polimorfismos entre eles o  o rs1815739. C>T. O alelo C leva a produção de α-actinina-3 e é associado a maior percentual de fibras tipo II, maiores níveis de Testosterona, menores níveis de  dano muscular, melhor desempenho de força e velocidade e pior desempenho de endurance. O alelo  T leva a formação de um códon de parada, não produzindo  α-actinina-3 e é associado a formação de maior percentual de fibras tipo I, melhor utilização de metabolismo aeróbio, menores níveis de testosterona, pior desempenho de força e velocidade e melhor desempenho de endurance. Por exemplo, atletas velocistas de elite, tanto masculinos e femininos, têm freqüências significativamente maiores do alelo C do que controles. 50% em atletas vs 30% em controles. A frequência do alelo T  difere entre populações humanas, 16% em Africanos e 51% em algumas populações européias. Resumindo, portadores do alelo C apresentam maior aptidão para exercícios de força e velocidade e portadores do alelo T para endurance.

Gene ACE

O gene ACE codifica a enzima zinco metalopeptidase conversora de angiotensina (ECA), a qual desempenha importante papel no controle da pressão arterial e homeostase cardiovascular como fator regulador no sistema renina-angiotensina (RAS). ECA transforma angiotensina I em angiotensina II, que é um potente vasoconstritor, pois inativa e degrada o vasodilatador bradicinina e  regula a homeostase do sal e água pela liberação de aldosterona. Além disso, regula atividades inflamatórias, eritropoiese e  oxigenação de tecidos.  O gene ACE possui muitas variantes genéticas (polimorfismos) entre eles a mais estudada é uma inserção/deleção de 287 pb. O alelo D (deleção) está associado com níveis séricos e teciduais elevados de ACE (aumento de 50 a 60%), aumento da produção do agente vasoconstritor angiotensina II e redução da meia-vida da bradicinina (vasodilatador). Indivíduos homozigotos para o alelo D parecem ter um pior prognóstico em relação a várias condições cardíacas e renais, maior vaso constrição, maior risco de hipertensão e risco 3,2 X maior de infarto do miocárdio. Existe enorme variabilidade entre indivíduos no nível circulante de ECA, que é fortemente influenciado pelo genótipo do gene ACE, estudos sugerem que 86% dos níveis circulantes de ECA são determinados pelo genótipo e 14% devido a fatores ambientais, como a dieta. Os níveis de ECA circulantes e os níveis de atividade são aumentados em indivíduos obesos e tendem a diminuir com a redução de peso. Portadores do alelo I (inserção) apresentam maior aptidão para exercícios de endurance e portadores do alelo D para exercícios de força e velocidade.

             Papadimitriou et al (2016) avaliaram a relevância dos genes ACNT3 e ACE em 346 atletas velocistas de elite, que possuíam os  555 melhores tempos em corridas de 100 m, 200m e 400 m. Esses atletas eram provenientes de  10 países: Australia, BRASIL, Grécia, Jamaica, Itália, Lituânia. Polônia, Rússia, Espanha e EUA.  Papadimitriou et al (2016),  constataram que não houve nenhuma diferença significativa nas provas de 100 m relacionados aos genes estudados. Entretanto, nas provas de 200 m, os portadores do genótipo CC do gene ACNT3 e/ou portadores do alelo D do gene ACE foram significativamente mais rápidos. Nas provas de 400 m, portadores do alelo D do gene ACE foram mais rápidos. Importante salientar que apenas portadores do alelo D, nas provas de 400 m, conseguiram o índice olímpico para a Olimpíada do Rio. Segundo os autores do estudo: Conclusão: A aptidão esportiva é fortemente influenciada pela genética. “Apesar do desempenho de velocidade depender de muitas variantes genéticas e ambientais, a variação do  tempo de velocidade explicado por ACE e ACTN3 é substancial no nível de elite e pode ser a diferença entre um recorde mundial e “apenas” chegar a final”. Papadimitriou et al. (2016).

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Referências Bibliográficas

Papadimitriou et al ACTN3 R577X and ACE I/D gene variants influence performance in elite sprinters: a multi-cohort study. BMC Genomics. V.17:285, 7-8, 2016.